quarta-feira, 24 de junho de 2009

01 - Gnosticismo



CAPÍTULO 1

I. – O GNOSTICISMO



Um grande problema que Igreja, principalmente do segundo século, enfrentou foi basicamente doutrinário, engendrado pelo movimento chamado de gnosticismo. Os líderes desse movimento questionavam a superioridade do cristianismo apostólico passado para os pais apostólicos.

Eles auto afirmavam-se ter recebido uma revelação secreta diretamente de Jesus que fora dado aos apóstolos. Dessa forma criavam um segmento separatista e elitista que desafiava a verdadeira mensagem de Cristo. Foi devido a esse embate que surgiu a necessidade da origem de uma ortodoxia teológica cristã.

I.1 – Origem

O gnosticismo se estabeleceu na primeira e mais perigosa heresia entre os cristãos primitivos. Apesar de até hoje ser uma questão extremamente polêmica, acredita-se na probabilidade de que o gnosticismo tenha surgido entre os cristãos no Egito em fins do século I e no século II, mas o gnosticismo certamente teve precursores. Alguns acreditam na influência das religiões da Índia, outros ressaltam o sincretismo religioso romano e outros acreditam nas tendências latentes da cultura e filosofia grega de modo geral, posto que rejeitavam a existência material e exaltavam a realidade espiritual.

Indícios e ecos do gnosticismo podem ser facilmente identificados em alguns dos escritos dos apóstolos. As epistolas de João, por exemplo, ressaltam que Cristo veio em carne: (2 Jo 7) “Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o anticristo”. É, portanto quase certo que João já combatia o proto-gnosticismo nas congregações cristãs no século I. Paulo também combate um tipo de gnosticismo em sua Epístola aos Colossenses.

I.2 – Data de início

O gnosticismo surgiu no final do século I. No século II, Ireneu registra o embate entre o discípulo João e um eminente mestre gnóstico de Éfeso chamado Cerinto por volta de 90 a.C.

I.3 – Fundador

O gnosticismo não possui um fundador em especial. Os gnósticos do século II se dividiam em várias “escolas” (movimentos) que seguiam mestres diferentes. Ireneu catalogou vinte delas e definiu detalhadamente suas semelhanças e diferenças.

I.4 – Doutrina

Apesar das variadas correntes gnósticas existentes e suas diferentes concepções em pormenores, elas assemelhavam-se em crenças básicas quanto a alguns aspectos:

I.4.1. – Deus

Criam em um só Deus, completamente transcendente, espiritual e há muito afastado do universo criado e material, o qual não criou. O universo teria sido criado por um demiurgo.

I.4.2. – Concepção antropológica

Os seres humanos são da mesma essência de Deus. Eles seriam centelhas divinas separadas de Deus e aprisionadas em corpos físicos, do qual deveriam escapar.

I.4.3. – Quanto à Criação e a Queda

Segundo os gnósticos, a Queda e a Criação do homem seriam a mesma coisa. Ou seja a Criação seria o próprio o aprisionamento do espírito na matéria – que é o entendimento distorcido de Queda. O motivo do pecado é exatamente essa ignorância da verdadeira habitação do espírito na carne.

I.4.4. – Soteriologia

Quanto à soteriologia, acreditavam que o homem seria salvo pelo conhecimento ou autoconhecimento. Para eles salvação seria o retorno ao lar dos espíritos, que estariam presos nesta terra pela matéria – uma evasão da criação. Por ignorarem a encarnação, a missão de Cristo como mensageiro da divindade era a de apenas revelar uma mensagem aos espíritos.

I.4.5. – Cristologia

Em relação à Cristo, criam que ele era o um mensageiro celestial, enviado por Deus. Era ponto pacifico no gnosticismo concordar que Cristo é um redentor celestial e espiritual que não se tornou carne e sangue e nem ressuscitou fisicamente da morte. Portanto, os gnósticos rejeitavam totalmente Cristo como Deus encarnado. Essa idéia era considerada anti-espiritual e contrária à verdadeira sabedoria.

Entretanto, é importante ressaltar quanto ao que tange à natureza de Cristo, havia um ponto de discórdia. Eles se dividiam em duas crenças diferentes: o docetismo e o dualismo.

I.4.5.1 – Docetismo

Os docetistas firmavam que Cristo apareceu na pessoa de Jesus mas que Jesus nunca foi um ser humano físico. Essa cristologia é conhecida como docetismo porque se origina da palavra grega “dokeô” que significa parecer. Portanto, Jesus apenas tinha a aparência de um ser humano.

I.4.5.2 – Dualismo

O segundo pensamento também corrente no gnosticismo era chamado de dualismo. De acordo com esses gnósticos, Cristo entrou no corpo do homem Jesus no batismo e o abandonou pouco antes de sua morte, deixando morrer lá somente o corpo o qual utilizara.

I.5 – Refutação bíblica

I.5.1. – Deus é criador e sustentador do Universo

Gn 1:1,2: “No princípio criou Deus (Elohim = Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo) os céus e a terra. A Terra, porém, era sem forma e vazia, e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas”.

Hb 1:3: “O qual (Filho), sendo o resplendor da sua glória (do Pai), e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder”.

I.5.2. – Concepção antropológica

I.5.2.a. – O homem foi criado do pó da terra e Deus soprou nele o seu espírito, o qual lhe deu vida:

Gn 2:7: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida: e o homem foi feito alma vivente”.

I.5.2.b. – O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. (Em geral diz respeito à moralidade, caráter, livre-arbítrio e à imagem do Cristo pré-existente que haveria de vir):

Gn 1:26-29: E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme à nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou”.

I.4.3. – Refutação quanto à Criação e a Queda:

Como já foi refutado, Deus criou todas as coisas. A Bíblia diz que a queda foi devido à desobediência do homem à ordem de Deus, dessa forma o pecado entrou no mundo:

Rm 5:12 “Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim, também, a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram”.

I.5.4. – Soteriologia

I.5.4.1. – A salvação é pela graça mediante a fé em Cristo.

Ef 2:5,8: “Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo... Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus”.

I.5.5. – Cristologia (Docetismo e Dualismo)

I.5.5.1. – Jesus Cristo é o Filho de Deus, o Verbo (Logos) encarnado:

Jo 1:14: E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”.

2 Jo 7: “Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o anticristo”.

At 5:30: “Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, ao qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro”.

I.6 – Concílio que discutia a heresia e sua conclusão

No Concílio de Nicéia, em 325, as heresias do gnosticismo foram condenadas e foi estabelecida as doutrinas ortodoxas da cristologia.

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