sábado, 27 de junho de 2009

Secularismo na religião pós-moderna

Introdução do meu projeto de pesquisa... comentem...

A situação da classe média universitária e intelectualizada brasileira atual, com relação à religião e espiritualidade, tem escapado do poder de observação e intervenção da Igreja. É um fato que as Igrejas, como instituições estabelecidas, têm perdido terreno gradualmente no universo de significados desses jovens, que ainda assim consideram a espiritualidade (e mesmo o cristianismo) como parte importante de suas vidas.

É curioso que jovens, que não têm vínculos formais com igrejas estabelecidas e que são comumente rotulados por essas instituições como “mundanos” ou “incrédulos”, vejam na religião uma importante fonte para buscar sentido para suas vidas e direcionamento para suas escolhas e atitudes. Pesquisas e artigos em revistas especializadas em cultura e sociedade revelam que a religião (geralmente formulada através de um processo de “bricolagem”) está presente e forte na vida desse recorte social.

Contudo, sua rejeição de instituições estabelecidas (e em especial de igrejas cristãs) levanta as perguntas: Quais as razões para essa rejeição? A Igreja não tem sido capaz de mostrar a eles uma opção de espiritualidade que eles possam aceitar (lembrando que a rejeição da Igreja e rejeição do cristianismo nem sempre estão conectadas)? Ou é preciso buscar uma nova compreensão eclesiológica, que possa levar em consideração as contribuições que essa juventude tem a oferecer?

Dietrich Bonhoeffer, teólogo protestante alemão que viveu na primeira metade do séc. XX, oferece, principalmente em suas últimas obras, uma possível resposta aos questionamentos levantados. Suas reflexões sobre a situação da Igreja Luterana durante a Segunda Guerra Mundial, a observação de uma sociedade que estava a cada passo mais distante da tutela da religião e mais convicta de que havia atingido a maioridade e poderia, então, pensar por si mesma e achar suas próprias respostas para seus problemas sem ter que recorrer a Deus como um Deus ex machina e o convívio com pessoas que não faziam parte da igreja (e, portanto, não eram consideradas “cristãs”), o levaram a considerar a possibilidade de um cristianismo arreligioso.

A atual geração não se considera menos “madura” que a geração de Bonhoeffer, garantindo que os questionamentos por ele levantados quanto a como o cristianismo deve se posicionar frente a um mundo que se tornou maduro continua integralmente atual. Em conseqüência, há a crítica ao dogmatismo, também presente nos escritos da última fase de Bonhoeffer.

O dogmatismo das grandes instituições religiosas soa aos ouvidos dos jovens contemporâneos como prepotência. Não acreditam que uma estrutura, um líder de igreja ou uma pessoa que ocupa um cargo importante, possam responder satisfatoriamente a todas as perguntas com o peso do dogma. A necessidade de uma opção de espiritualidade aberta, que deixe espaço para o pensamento individual e que possa receber contribuições de fontes diversas se faz sentir na sociedade atual. A cristologia de Bonhoeffer, uma cristologia que olha para o mundo encarnando em sua situação existencial e amando o mundo no qual encarna, pode oferecer uma alternativa ao dogmatismo institucional frio.

Outro fator de peso nas considerações atuais sobre a religião é a imagem que ela transmite aos jovens. Sua atuação no mundo, na opinião destes, sempre foi questionável e manipuladora. Das Cruzadas medievais aos atuais extremistas islâmicos, da religião de comércio neo-pentecostal aos escândalos de pedofilia que se multiplicam no seio da Igreja Católica Apostólica Romana, as religiões parecem se apresentar como lobos em pele de cordeiro, colocando sua credibilidade em risco.

Durante a Segunda Guerra Mundial não foi diferente. A Igreja oficial alemã havia se submetido ao regime e ideologia nazistas, enquanto igrejas que não se submetiam precisavam agir de maneira clandestina. Bonhoeffer ocupou cargo de liderança na Igreja Confessante, movimento de resistência ao regime nazista. Perante uma Igreja vendida à ideologia de dominação e morte nazista, Bonhoeffer precisou repensar a eclesiologia.

A análise teológica das obras de Bonhoeffer e de seus intérpretes, junto com uma análise social embasada em dados atuais e condicionados à situação da juventude universitária brasileira, talvez contribua de maneira positiva às discussões atuais sobre a espiritualidade pós-moderna, diálogo inter-religioso e como a Igreja (e a religião de maneira geral) deve se posicionar frente aos questionamentos levantados contra ela se quiser continuar a ser relevante em uma época cada vez mais secular.
Pra quem quiser visitar, o blog do cara é: http://projeto5.blogspot.com

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