quinta-feira, 25 de junho de 2009

A sociedade judaica nos dias de Jesus PARTE 1

CAPÍTULO I




I – AMBIENTE RELIGIOSO




Desde o principio vimos que Deus precisou agir para salvar a humanidade. Sempre foi da vontade de Deus se relacionar com o homem. A Palavra nos ensina que vivemos num mundo criado por Deus, onde operam suas regras e leis. Quando essas regras são quebradas, acontece uma separação do homem de Deus. O pecado traz juízo de Deus e caos social.

No Novo Testamento sabemos que Deus providenciou Jesus para livrar o homem do pecado e da conseqüência do pecado que é a morte (Rm 6:23). Deus na pessoa de Jesus Cristo permitiu que o matassem como culpado, apesar de ser inocente, para que através da sua morte toda a humanidade pudesse ter vida. Como disse o apóstolo Pedro: “Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” (1Pe 2:24).

Nos dias do Antigo Testamento Deus escolheu primeiro indivíduos para que gradativamente através dele, nascesse um povo de onde nasceria o Messias para salvar a humanidade.

Como no Cristianismo, Deus não quis fundar uma religião judaica, mas providenciou condições para que o homem pudesse ter um relacionamento íntimo com ele. Deus usou a religião judaica com o propósito de preparar o caminho para Jesus. A religião judaica porém não permaneceu estática.

Na religião judaica foram surgindo lugares santos, dias santos, indivíduos santos, eventos santos. Mas o que Deus queria era um espírito quebrantado e contrito em vez de sacrifícios (Sl 51:17), justiça em lugar de dias festivos (Am 5:21-24) e em lugar de ofertas de carneiros e óleos Ele queria pessoas justas, bondosas e que andassem humildemente com o Seu Deus (Mq 6.8).

Todo o arranjo religioso não tinha fim em si mesmo, porém tinha como propósito revelar a extensão da necessidade dos homens. (Rm 3:19, 7:5, 7-9) a fim de sermos conduzidos a Cristo (Gl3:24,25). Era um meio de sustentar a relação de aliança com Deus até que ele próprio viesse.

I.1. – Leis Santas

Os judeus tinham suas leis baseadas no Torah, que significa orientação e instrução. A religião judaica está baseada nela. Nela se encontra orientação de como se relacionar com Deus e com as pessoas. A Lei (Torah) revelava o caráter de Deus: santidade, justiça e bondade.

I.2. – Lugares Santos

Os judeus consideravam alguns lugares como santos. Os lugares considerados santos eram espaços onde fora possível encontrar-se com Deus determinado momento. Estes lugares eram marcados com um altar e um sacrifício. Quando Jacó fugia de seu irmão, teve uma visão enquanto dormia. Ele viu uma escada e anjos subindo e descendo por ela, ali ele edificou um altar e ofereceu um sacrifício ao Senhor. E deu àquele lugar o nome de Betel, que significa Casa de Deus (Gn 28:19). Outros lugares também foram marcados com altares e sacrifícios como: Hebrom, Siquém, onde Deus apareceu a Abraão e prometeu a terra aos seus descendentes, e outros.

I.3. – Sinagogas

No exílio, depois do templo de Salomão ter sido destruído, os judeus começaram a reunir-se em sinagogas (lugares de reunião, literalmente), dessa forma conseguiram preservar sua cultura. Depois do exílio o sistema de sinagoga continuou sendo usado por eles. Eles se reuniam aos sábados, lá eles aprendiam à lei e as tradições do seu povo.

Esses lugares de reunião começaram a ser construídos onde quer que houvesse no mínimo dez homens adultos na comunidade. Elas eram construídas geralmente no centro da comunidade, ou no lugar mais alto dela. Era geralmente o prédio mais alto, possivelmente por meio de uma base ampliada. Elas também tinham características próprias, para que o judeu pudesse familiarizar-se com a sinagoga, em qualquer lugar que estivesse.

Somente os homens podiam entrar pela porta principal. As mulheres entravam por uma porta separada e sentavam-se numa galeria no fundo. No final do prédio, no lado oposto à entrada, ficava um cômodo com a arca que continha os rolos da sinagoga. E no meio da sinagoga, ficava o bema, um púpito elevado, onde estava uma estante que continha os rolos da sinagoga para todos lerem e o sermão ser pregado.

No culto normal, salmos eram cantados, as escrituras lidas e o sermão pregado (Lc 4:16-21). Depois havia um momento para debates e perguntas. Estevão utilizou-se desse espaço para fazer perguntas que levassem a proclamação do Evangelho. A sinagoga preenche uma lacuna importante para a religião judaica. Porém não eram realizados sacrifícios, já que os mesmos só poderiam ser feitos no Templo.

I.4. – Templo de Herodes

Nos dias de Jesus existia o Templo de Herodes, e recebeu este nome porque fora ele quem o mandou construir para agradar os judeus. Os primeiros lugares separados para a adoração foram o Tabernáculo feito por Moisés, a Casa de Davi, e o Templo suntuoso de Salomão. E agora é construído o Templo de Herodes, cujo tamanho é o dobro do de Salomão e sua divisões mais elaboradas. Havia lugares separados para homens, sacerdotes, mulheres e gentios. O prédio era magnífico, uma das maravilhas do mundo antigo. Para os judeus era inconcebível Jesus dizer que não ficaria pedra sobre pedra. No templo eram oferecidos sacrifícios ao Senhor.

I.5. – Celebrações santas

Os judeus possuíam muitas festividades e datas importantes em seu calendário.

I.5.1. - O sábado

O sábado era um tempo de descanso do trabalho, sendo um alívio físico, e era também uma benção espiritual. (Is 56:2,4-7; 58:13,14). A guarda do sábado está nos dez mandamentos que o Senhor dera a Moisés. O sábado começa na sexta-feira ao por do sol.

Nos tempos de Jesus, o sábado ainda era um dia onde se comia a melhor refeição da semana, vestia-se a melhor roupa e ia-se à sinagoga à tarde. Porém o mesmo havia se tornado um fardo para as pessoas, pois havia muitas leis detalhadas que regiam cada aspecto do dia. Existiam leis até para estipular quantos passos uma pessoa poderia dar num dia de sábado. Uma jornada de sábado, por exemplo, equivalia a 2000 passos.

Jesus percebeu que o sábado havia perdido o seu objetivo inicial que deveria ser de alegria, mas que agora estava sendo de tristeza. Jesus afirma ser o Senhor do sábado e diz que o sábado foi feito para o homem e não o contrário ( Mc 2:27). Jesus é o nosso sábado.

I.5.2. - Celebrações anuais

I.5.2.1. - As festas da Páscoa e dos Paes Asmos

A festa da Páscoa é a de maior importância dentre as festas dos judeus, celebrada de 14 a 21 do mês de Adib ou Nisã. Sua origem está extremamente ligada ao nascimento da nação judaica quando Deus livra Seu povo da escravidão do Egito. No êxodo Deus instruiu aos israelitas que passasse sangue nos umbrais das casas, para que quando o Anjo da morte passasse matando os primogênitos, eles fossem poupados. Deus também instrui a forma como deveriam comer o cabrito e o carneiro. Essa festa é comemorada e lembrada como sinal de libertação e proteção divina.

I.5.2.2. - O Pentecostes

Denominada também Festa das Semanas. Festa da Ceifa ou Festa das Primícias. Cinqüenta dias após a Páscoa, época de colheita da cevada, vinha à colheita do trigo, quando era celebrada a festa das semanas. Após o exílio, os judeus passaram a celebrar esta festa em Jerusalém, tornando-se a segunda das festas anuais em que o povo afluía a essa cidade. Além da cerimônia havia muita comida, bebida e musica. Foi nesse dia que, após Jesus ter voltado para o Pai, o Consolador foi enviado. Quando estavam todos reunidos, o Espírito Santo desceu sobre eles e passaram a falar em outras línguas (At 2:1-4).

I.5.2.3. - Festa dos Tabernáculos

Chamada também de Festa das Tendas, da Colheita e Festa do Senhor. Era a terceira festa relacionada a agricultura, por esse motivo, era uma festa muito alegre. Comemorava-se no mês de tishri e durava sete dias. Muitos dos celebrantes levavam ramos de palmeiras nas mãos, como símbolo de reconhecimento da boa colheita que tiveram.

I.5.2.4. - Festa das Trombetas

Era observada no 1º e 2º dias de Tishri, o 7 º mês, porque assinalavam a 7º lua nova do ano religioso e o início do ano civil .

I.5.2.5. - O Dia da Expiação

É também chamado de Yom Kipur. Era uma ocasião em que o povo fazia uma auto-reflexão. Era para arrependimento e purificação nacional. Era nesse momento que o sumo-sacerdote entrava no Santíssimo Lugar uma vez por ano e impunha as mãos sobre um bode transferindo todo o pecado da nação. Logo após o bode era conduzido ao deserto. Após profundos sentimentos de tristeza, os participantes se alegravam na Festa do Tabernáculos que era logo a seguir.

O mero ato de imolar um animal não remove pecado de ninguém. Isso servia apenas de símbolos e sombras do que estava para acontecer (Hb 10.1). Só podemos hoje estar em paz com Deus e achegarmos a Ele pelo sangue de Jesus. (Hb 10:19).

I.5.2.6. - O Purim

Mais uma comemoração alegre que os judeus acrescentaram depois do exílio babilônico. Essa festa foi instituída para comemorar o livramento dos judeus durante o reinado de um rei persa. Foram dias da perseguição planejada por Hamã, que visava o extermínio total da raça judaica nos domínios persas. Mordecai recomendou que se comemorasse nos dias 13 e 15 do mês de Adar (Et 9:20).

I.5.2.7. - A Festa das Luzes

Essa alegre comemoração tem diversos nomes, como Chanocá, Festa da Dedicação, dos Macabeus, da Iluminação e Festival da Rededicação. Era comemorada no dia 25 do mês chisley. Ela tem sua origem em 167 A.C., quando Judas Macabeu limpou e reconstruiu o templo que havia sido profanado e destruído.

I.6. – Povo Santo

I.6.1. - Sacerdotes e Levitas

Nos dias do Novo Testamento havia ainda sacerdotes e levitas que trabalhavam no serviço do Templo. Eles representavam o povo diante de Deus, e diante do povo, ensinavam as Escrituras. Nos dias de Jesus, os principais sacerdotes eram os membros das famílias dos sacerdotes. Eles se opunham contra Jesus constantemente.

I.6.2. - Profetas

A pessoa se tornava profeta quando Deus começava a falar com ela e ela por sua vez, precisava entregar a mensagem do Senhor. A mensagem do profeta era transmitida conforme a personalidade do profeta. Jeremias diz que a mão do Senhor o tocou e as palavras foram colocadas em sua boca(Jr 1:9). Outros profetas tiveram sonhos e visões (1Sm 28:6,15; Zc 1.8) e de outras formas como parábolas ( Is 5:1-7), recapitulando profecias ( Is 6), repetindo um oráculo ( Ez 4:1-3), ou escrevendo (Is 30:6). Nelas eles falavam dos acontecimentos futuros e alertavam o povo a seguirem a Lei. Em Lucas 2:36 vemos uma profetiza chamada Ana, filha de Fanuel da tribo de Aser.

I.7. – Objetos Santos

Existiam objetos santos, que pertenciam ao Senhor e não podiam ser tocados por pessoas comuns. Vários objetos eram sagrados, e estavam localizados no Lugar Santo e do Santo dos Santos no centro da adoração.

I.7.1. – A Arca da Aliança

A Arca da Aliança era o objeto mais importante de todos. Servia de trono para o Deus invisível e que ficava sentado sobre as asas dos querubins, e cuja voz vinha de cima dela. Ela é descrita em Êxodo 25:10-22. Nela continha as duas tábuas de pedra dos Dez Mandamento, um vaso contendo o maná e a vara de Arão. No Lugar Santo havia três objetos: uma mesa (mesa da proposição), um castiçal e um altar.

1.7.2. - Outros objetos

Muitos judeus usavam os filactérios (principalmente os fariseus). Eles penduravam partes das escrituras no punho ou na testa. Geralmente o credo básico dos judeus registrado em Dt 6:4,5.

I. 8. - Principais grupos religiosos

I. 8. 1. - Saduceus

Havia dois grupos principais em constante conflito: saduceus e fariseus. Embora ambos seguissem a lei mosaica, os saduceus receberam influência helênica, o que os fizeram negar a imortalidade da alma, os anjos, os espíritos, o juízo final e o messianismo.

Os saduceus eram membros de uma seita judaica antiga, integrada por sacerdotes e aristocratas que se mantinham no poder com o apoio dos romanos. Aparecem na história por volta do ano 200 a.C. Rejeitavam a tradição oral e admitiam como cânon apenas os livros do Pentateuco. Conduziam-se às vezes com rigidez e, ao contrário dos fariseus, recusavam qualquer compensação em dinheiro em substituição à lei de talião e exigiam "dente por dente, olho por olho".

A maioria dos que compunham o grupo dos saduceus era procedente da mais alta classe social. Assim, embora não sendo em grande número, exerciam uma grande influencia. Seu dirigente era sempre um elemento dos meios sacerdotais, de origem aristocrática. Ao que parece, eles conseguiam jogar com três ingredientes: poder, corrupção e tradição judaica, o que lhes dava os meios para continuar na liderança.

Após a destruição do templo de Jerusalém pelas legiões romanas no ano 70, praticamente não há registro ou menção aos saduceus, cuja vida estava ligada ao serviço do templo.

I. 8.2. - Fariseus

Enquanto os saduceus se opuseram a Jesus pelo pragmatismo, os fariseus pela maneira como interpretava a lei, e da sua afirmação de que era Filho de Deus.

Os fariseus aceitavam o Velho Testamento como sendo a Palavra de Deus. Foram os fariseus que preservaram a identidade judaica quando esta a estava prestes a perdê-la. Criaram escolas para ensinar os jovens com o fim de não apostatarem e se envolver com crenças gentílicas. Os fariseus estavam muito presos às leis e com isso o fanatismo religioso tomava o lugar da verdadeira adoração a Deus, que consiste em misericórdia, justiça e fé.

Os líderes do grupo se achavam guardadores da lei e por esse motivo, levantaram um cerco de mais mandamentos para que o povo não desobedecesse a Deus e andasse em santidade. Jesus os reprovou dizendo que nem eles entravam no Reino do Céu, nem deixavam os outros entrarem ( Mt 23:13). Estavam sempre querendo aprimorar as leis de Deus. Achavam que obedecer a Deus consistia principalmente em observar todos os detalhes dela, e não em amar.

I.8.3. Essênios

Esse grupo não é mencionado na Bíblia. Eles tinham uma filosofia de se isolar nos desertos e viver em grupos longe da sociedade para não se contaminar. Eles queriam se purificar para estar preparado para receber o Messias. Era comum naquela época a esperança messiânica. Alguns consideram que João Batista fez parte de um grupo essênio. Mas o fato é que João Batista obedeceu a uma ordem especifica do Senhor ao viver em muitos aspectos como Elias.

O grupo de essênios localizado no Qunrã, durou 200 anos. Eles contribuíram muito com os cristãos do século XX, já que foi encontrado em 1948, um grande número de pergaminhos, chamados de pergaminhos do Mar Morto.

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